Um Macaco Fonia

Provação

Pode até ser que eu tenha achado agradável depois, mas a minha preocupação deve ser apropriadamente manifesta como alguém que ainda não passou pela experiência. Não quero parecer excessivamente ansioso com uma coisinha à toa como essa. Também não quero ajudar a disseminar um temor infundado em meus colegas de gênero, mas... Sim, nós temos medo de quem sabe manchar (literalmente) uma masculinidade conseguida a tão duras penas com anos de bolas de gude, espadas de He-Man, estilingues, etc. Claro que só posso estar falando do famoso toque retal!
Desconfio seriamente de que este exame seja fruto da mente doentia de quem o imaginou. Senão vejamos: nas minhas aulas de Ciências aprendi que a próstata é uma glândula que se situa por detrás da bolsa escrotal (estou admirado em como prestei atenção nesta aula!). Ora, se é assim, porque ela não pode ser acessada com esta “leveza”? Ou então façam um raio X da coitadinha. Não, o tarado do urologista só vai ficar satisfeito se invadir o meu mais profundo “eu” interior!
Outro problema é o de ordem semântica. Tenho um amigo pouco dado aos requintes da educação que se retirou do consultório com as calças na mão. Também pudera. O que foi consentido foi um “toque”, não um “escarafuncho”!
Como deve ser próprio de todo ritual de iniciação, me confesso ignorante dos procedimentos (ou devo dizer preliminares?) que envolvem este exame. Serei instruído sobre hábitos alimentares? Não, é sério! Tenho um intestino de bebê. Pode parecer um pouco pornográfico, mas aquela tal de “duchinha” não seria indicada?
Não, acho que não precisa tanto assim. E a posição? Nunca tive coragem de perguntar para ninguém para não dar a impressão de que não vejo a hora, mas qualquer uma vale? Confesso que vou ter ganas de estrangular o médico se ele me responder que pode ser de ladinho mesmo.
Quero deixar claro o tom estritamente sigiloso dessas preocupações . Vai que as nossas crianças descobrem! Certamente irão partir para o contra-ataque:
-Come tudinho senão a mamãe vai levar você pra fazer exame de próstata!
Também não se deve correr o risco de cair no ridículo com propostas ao nosso carrasco:
- Se eu abrisse bem a boca não dava pra fazer por cima?
Sempre imaginei que uma das grandes vantagens do progresso da medicina era viver mais e com melhores condições de vida. Mas veja só: no tempo do meu tataravô a expectativa de vida talvez não passasse dos quarenta. Então desse vexame ele estava livre. Vai ver nem existia próstata ainda... Mas agora não adianta mais. Vamos, sim, ter que conviver com estes dois fantasmas a atormentar a cabeça masculina: o Boitatá no começo da vida e o exame de “próstatá” na segunda metade dela.


 
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