Refogado
O casal deitado na enorme cama, início da noite. Quarto escuro, silêncio.
De repente, sons estranhos, gorgolejos, sons metálicos vindos do banheiro, ao que parece.
Ele, o homem da casa, senta na cama, assustado. Olha para o lado: sua mulher dorme, ressona.
Sai da cama e caminha em direção aos sons. Pararam, agora.
Aproveita para urinar. Não se incomoda com a descarga.
Ao tentar abrir a torneira da suíte, depara-se com algo inusitado: a torneira sumiu! Como pode, ter sumido?
Se desperta, o coração acelera. Tenta lembrar: sim, usou a pia antes de deitar, estava lá no início da noite. Corre para a segunda pia, no mesmo banheiro. Nada!
Ambas as torneiras foram levadas. Alguém entrara ali, por isso os barulhos estranhos, de encanamento.
Em meio ao pânico, o raciocínio torna-se confuso. Estaria ali, ainda, o ladrão? Num pulo, afasta-se da porta aberta. Poderia ser golpeado com a torneira pelo assassino, que estaria à sua espreita! Puxa rapidamente a porta para si: não, não há ninguém atrás da porta...
Somente agora, mais aliviado, percebe seu corpo extremamente pesado, como se houvesse engordado muito desde o dia anterior. Não fosse o efeito do medo, teria lembrado de olhar para baixo, notado como sua própria cintura estava avantajada.
Os sons novamente retornam. Agora, mais assustadores ainda. Canos estralando, dilatando-se. Há água no prédio? - questiona-se.
Volta à descarga. Ao tentar apertá-la, no entanto, nota em seu braço os pêlos duros, ouriçados, em meio à sua pele esverdeada.
Esverdeada?
Tenta correr ao espelho, esquecido do ladrão (ou assassino) à espreita.
Seu corpo verde, peludo, pesado, de cintura enorme, o impede de chegar ao espelho com a rapidez esperada. O que estaria acontecendo? E se o assassino, pivete, ladrão de cano, o persegue agora, como irá conseguir fugir?
Não resiste mais ao desespero, e grita. Grita alto, forte, muito forte para que alguém, a mulher que seja, venha ao seu socorro. Não emite som algum. Somente uma baba espessa, pegajosa, escorre-lhe pelo canto da boca.
Com muito esforço, chega ao espelho. Não reconhece a figura estampada na sua frente. Foca o olhar. Mas o que é isto que está vendo, será possível? É um... Um...
-Chuchu?
-Chuchu?
-Hein?
-Pesadelo de novo, chuchuzinho? – pergunta a mulher, tentando acalmá-lo.
Não responde, descascado do seu orgulho, recusando o muxoxo.
Não pega bem, pra um maxuxo desse tamanhão.