Um Macaco Fonia

Clareou, Bate

-Qual era mesmo o nome dele?
-Lázaro. Lázaro Laranjinha.
-Ah, é.
-Um verdadeiro fenômeno com a bola nos pés. Com a bola só, não. Daí o apelido. Fazia horrores com uma laranja. Dizem até que se o futebol fosse jogado com laranja, seria maior que o Pelé.
-Sei.
-E não era só laranja. Embaixadinha, fazia com tudo: limão, bola de tênis, bola de gude, mexerica...
-Figo.
-Hein?
-Figo, fazia?
-Aí, também, você tá de sacanagem. Tô falando de coisa redondinha.
-E por que é que não se houve falar do cara?
-Problema é que o Lázaro tinha uma saúde frágil, vivia machucado. Machucado só, não. Tinha, na verdade, tudo quanto era coisa, o coitado. De joanete a espirro mal curado. De asma até zumbido, era um dicionário de doença. Jogava uma média de dois jogos por campeonato, só.
-Mas aí arrasava!
-Arrasava, arrasava. Não fosse o fato de que era muito violento.
-Violento? Com saúde frágil?
-Mas isso não impedia. Sabe como é briga em futebol. O primeiro empurra, o segundo enfia o dedo na cara. A partir daí, ninguém é de ninguém. Na confusão, quando iam ver, lá estava o Lázaro, engalfinhado com cinco ou seis.
-Na porrada?
-Não. Quer dizer, normalmente não. Gostava mais era do engalfinhamento mesmo. Não foram poucas as vezes em que, muito depois da briga ter acabado, tinham que puxar o Lázaro do meio da turma, com uma cara estranha, meio que de satisfeito.
-E nunca ninguém notou nada?
-Notar, notavam. Mas como ele era ex-prisioneiro, a turma tinha medo e ficava por isso mesmo.
-Ex-prisioneiro?
-Cinco anos na primeira vez. Na segunda, mais quatro. Estelionato. Onde é que você acha que o Laranjinha adquiriu tamanha habilidade?
-Na sobremesa...
-Claro. Sobremesa de penitenciária. Laranja. E a dele era a única que já vinha descascada.
-Uai, por quê?
-Pra treinar falta. Se tivesse casca, não achava um que ficasse na barreira.


 
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