Um Macaco Fonia

Deus Me Louvre

Nada de fotos, por favor.
Aqui, neste “A virgem perfilada”, óleo sobre tela, percebe-se pelo uso de tons carregados, a fase burlesca do autor. Notem o olhar da virgem na direção posterior, a expressão assustada, ainda que a inclinação da rima bucal para cima denuncie algum prazer recôndito, e a discreta contratura do membro inferior esquerdo. Notem, ainda, o sombreamento perfeito das suas vestes na altura da nádega do mesmo lado, indicando movimento de leve torção dos dedos polegar e indicador de José, que volta o olhar inocentemente aos céus. Acima, um cupido distraído observa a cena, dirigindo-se perigosamente para o tronco de uma árvore.
Neste outro óleo sobre tela, “Ceia a três”, de data ignorada, o pintor, ele mesmo um voraz apreciador da boa mesa, retrata o irmão do meio (do meio da mesa, não conhecemos as suas idades) segurando a colher firmemente, denotado pelas falanges empalidecidas, enquanto abocanha sofregamente o que parece ser um guisado. Percebe-se o seu ventre claramente avantajado por debaixo da mesa, além do olhar colérico do seu irmão mirrado, que parece ser mais moço, avançando em direção ao seu prato. À esquerda a irmã, ossuda, aponta o que parece ser um garfo para o seu pescoço. Um anjo (ou um cachorro, difícil termos certeza, pois este obviamente foi pintado por um aprendiz) pode ser visto serrando os pés da cadeira. A criada simula um tropeço com a panela direcionada para a cabeça do glutão. Filósofos humanistas do século XVI afirmam categoricamente que a dobradinha não levava cebola.
Aqui, em “O tocador de luto” não temos a mínima idéia o que o artista pretendia retratar.
Observem agora, nesta tela, “Menino Descascando Gabiroba”, datada do século XVII, a doçura lasciva do jovem rapaz com a faca na mão. Reparem no desgaste da faca e nos calos da mão direita. Por algum motivo as gabirobas são descartadas no solo. Esta tela, encomendada pelo papa Inocêncio II para decorar o refeitório de uma abadia florentina, foi roubada das mãos do pintor por um poeta russo de modos efeminados.
Já neste “Auto-retrato”, em mau estado de conservação, do período introspectivo do gênio quando vivia em Milão, nota-se algum parentesco do olhar buliçoso do artista e o do leiteiro, bem mais ao fundo da tela, como que tentando passar despercebido. Há quem afirme, por isso, que a santa retratada nos quadros do mesmo artista não seja mesmo a sua querida genitora.
Aqui em “Vestido de Palhaço” notamos a corte em festa, com o monarca em elegantes trajes ricamente adornados. A rainha, de vestido plissado em meio ao banquete, gargalha ao apreciar o espetáculo das dançarinas, evidenciando sua embriaguez. Estranhamente não vemos representantes do povo. Também não vemos ninguém vestido de palhaço, como sugere o título da obra. A cabeça que rola na guilhotina, pintada ao que parece mais recentemente, guarda impressionante semelhança com o rosto do pintor.
Em “Passeio no Rio Volga”, o pintor mostra que deixou de lado o rigor acadêmico. Ao atentarmos para a delicada mão da moça que segura a sombrinha, veremos que há seis dedos, sendo dois polegares. A rótula colada ao tornozelo também não está em conformidade com a anatomia da época. Lembro que quando foi pintado este quadro, o rio ainda não era poluído, o que poderia ser uma explicação. A prancha de surfe ao lado da cesta de piquenique também é um mistério.
Há um debate quanto à autenticidade deste outro quadro. “A Madona Nua”, com suas opulentas curvas sensuais foi tão solicitada no seu tempo que seu autor foi aposentado pela coroa. Hoje se sabe que foi por lesão por esforço repetitivo.
Aqui em “Natividade”, uma fase ignorante do artista, mostra a criança deitada num monte de manjerona. Os três reis, excessivamente magros, trazem presentes: um louro, um lenço e esfirras. Não se sabe se por falta de régua ou se por uma alusão qualquer, o feixe de luz erra a criança e atinge em cheio o cabrito, que mostra uma expressão aborrecida de quem acabou de acordar. José está a cara do Che Guevara.
Observem a beleza deste outro óleo sobre tela. Conta-se, mas aí já pode ser lenda, que ao terminar esta obra, tal é a perfeição e vivacidade das formas, o artista teria ouvido assustado “Parla!” vindo do personagem da tela. Assustou-se ainda mais ao descobrir que era sua temível sogra recém-chegada atrás da tela cobrando-lhe: “Como espera sustentar minha filha com estas porcarias de pintura? Parla, desgracciado!”.
Neste outro quadro de molduras muito simples vemos dois rapazes com o olhar curioso, as mãos ao lado dos rostos, uma nítida impressão de embaçado na tela. Notem o relevo perfeito, a mobilidade das expressões, uma das mãos que se move dando tchauzinho...
Ei! Alguém aí pode me fechar essa janela, por favor?


 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.