Cineurose

-Ao voltarmos do café da manhã, podíamos pegar uma prainha. O que você acha?
-Praia? Não, obrigado. Não tenho coragem. Vai você...
-Por que? Não sabe nadar?
-Sei. Quer dizer, acho que ainda sei. Pelo menos, eu sabia. Até o dia em que fui assistir “Tubarão”. Não consegui mais nem por os pés na água! Nas poucas vezes em que tentei, aquela maldita musiquinha começava a tocar dentro da minha cabeça...
-Então, tudo bem. Podemos apenas dar uma esticada pelo centro da cidade. É só o tempo de tomar uma ducha.
-Ducha? No banheiro do hotel? Nem pensar! Desde que eu assisti “Psicose” não houve mais jeito de encarar um chuveiro.
-Usa a banheira, então.
-Banheira? Você assistiu “Atração Fatal”?
-Ué? Como é que você toma banho, então?
-Na canequinha.
-Paciência. Então depois da canequinha, podíamos ir visitar aquele prédio com vista panorâmica...
-O que? Você não lembra do “Inferno na Torre”?
-Ah, sei, sei. Então façamos um “tour” de ônibus pela cidade...
-“Velocidade máxima”...
-De táxi, então.
-“Taxi Driver”.
-Metrô...
-“King Kong”.
-Tudo bem. Nesse caso vamos assistir ao jogo nesse estádio próximo ao hotel.
-Eu, hein? “Pânico na multidão”!
-Tá bom, ficaremos no hotel. Só preciso ir ao caixa automático do banco aqui ao lado. Quer ir junto?
-Não. “Um dia de cão”.
-Ai, meu Deus! O que você acha de irmos ao barzinho do hotel...
-“Um Drink no Inferno”...
-...dar uma olhada nas gatas...
-“Traídos pelo Desejo”.
-... quem sabe rola até uns beijinhos...
-“Um beijo antes de morrer”...
-Ah, não! Assim não dá! Porque então você não pega o primeiro avião e volta pra casa?
-“Aeroporto”, “Náufrago”, “Morte nos Andes”...
-Tá bom, tá bom. Come logo esse pãozinho com manteiga e vamos passar o dia inteiro no quarto...
-Não posso.
-Por que não pode? Vai me dizer agora que você viu algum filme em que o ator come pão com manteiga e morre por causa do excesso de colesterol...
-Não. “Último Tango em Paris”, mesmo...