Um Macaco Fonia

Enchendo A Copa

Um ácido refluxo, azeitona do empadão, o acordar da noite mal-dormida. É dia decisivo, oitavas.
Tem febre, é certo que tem. Ainda assim, quer bater a falta. Pede aos outros que se afastem. Olham-no com cara feia. A sua, porém, mais feia ainda, da noite mal-dormida, vence a disputa.
Toma grande distância. Da cama ao banheiro, sete passos. Tenta enxergar o goleiro. Tarefa impossível dali, detrás da barreira. Se ainda não fosse tão pequeno...
Será possível que não haja goleiro? Todo bom time começa por um bom, dizem.
Afasta-se um pouco mais da bola. Agora sim, vista de cima, parece-lhe redonda. Podia jurar que era plana. Efeito do vinho chileno, talvez.
Ouve um grito de gol.
Uma falsa mulata, a mesma falsa mulata de outras copas (pelo menos das que foram transmitidas a cores), banhas apertadas num top amarelo, como se mulatas brasileiras andassem pelas ruas brasileiras o tempo todo, o tempo todo de top amarelo, vibra, virada para a torcida. Mas como, se a falta nem foi batida?
Batida?
Agora lembra, batida: seis limões (limãos? e degraus ou degrais?) numa garrafa de água mineral (minerais, essa tem certeza) antes do jogo.
O juiz apita: Priiii!!
-Pode, seu juiz, pooor favor, apitar mais baixo, tô cuma doooor de cabeça...


 
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